Texto baseado no artigo “Processos reflexivos: ampliando possibilidades para terapeutas que atendem sem equipe”, de Mayara Labs e Marilene Grandesso (2017)
Por Arthur Alves de Oliveira Silva
Quando falamos de psicoterapia em abordagens pós-modernas, o Construcionismo Social tem em seu guarda-chuva os Processos Reflexivos, de Tom Andersen, como um grande referencial de trabalho. Tendo sua origem inicialmente com equipes reflexivas, abre-se um grande leque para novos entendimentos e possibilidades de atuação na medida em que novas vozes podem ser incluídas no sistema terapêutico. Mas será que só é possível a existência de processos reflexivos se houver uma equipe de apoio? É disso que se trata o artigo “Processos reflexivos: ampliando possibilidades para terapeutas que atendem sem equipe”, de Mayara Labs e Marilene Grandesso, publicado em 2017.
Publicado na revista Nova Perspectiva Sistêmica, este trabalho abarca justamente a ideia de que processos reflexivos não necessitam necessariamente de outras vozes concretas e outros profissionais no setting para que seus pressupostos sejam absorvidos e incluídos no trabalho clínico. Processos reflexivos descrevem muito mais uma atitude e uma postura contextual e relacional do que o uso de uma técnica enrijecida propriamente dita.
Se no esquema de equipe reflexiva as pessoas do sistema reflexivo são convidadas a compartilhar, na frente do sistema terapêutico, suas impressões e pensamentos, entende-se que há a ideia geral de alternar posições de fala e escuta, explorar novos sentidos do que chamou a atenção e possibilitar que novas vozes sejam incluídas na reflexão visando transformação e mudança. Apesar de ser extremamente potente, não são todos os profissionais ou contextos que possibilitam esse tipo de formato de atendimento. Ao longo do artigo em questão, acessamos como alguns casos clínicos e terapeutas foram inventivos no sentido de explorar novas formas de pensar processos reflexivos sem uma equipe.
Algo importante a ser lembrado é que numa conversa entre duas pessoas existem três diálogos: o diálogo externo entre as duas, e duas conversas internas na mente de cada uma delas. Cada um desses diálogos possibilitam uma ampliação dos direcionamentos da conversa visando uma transformação. É possível compartilhar uma conversa interna dizendo: “Na medida em que te ouvi, fui atravessado pelo pensamento e gostaria de compartilhar…”. Isso já se trata de um processo reflexivo, não acha?
Além disso, as vozes compartilhadas que habitam o contexto terapêutico não se limitam somente aos atores presentes fisicamente nas quatro paredes da clínica. As ideias vindas podem ser de vários lugares – pessoas citadas na sessão, personagens fictícios, famosos, músicas, filmes, vozes internalizadas de pessoas conhecidas, roleplays, dentre tantas outras fontes de vozes. O que cada uma dessas vozes pensaria? O que fariam? Diriam o quê?
Uma das pessoas que compõe o artigo trabalha com crianças, e traz um exemplo muito interessante. A terapeuta em questão traz que um dos recursos que mais utiliza com crianças é uma luva que tem cinco cabeças diferentes, cada qual representando personagens diferentes que vão variar conforme o atendimento, e cada personagem leva à criança uma ideia diferente. Lúdico e ao mesmo tempo didático, esse exemplo como podemos ampliar o atendimento no esquema de processos reflexivos para além de uma equipe.
Falar de processos reflexivos é falar de um modo de ser e estar em psicoterapia. Tendo isso dito, a criatividade e a espontaneidade comparecem de forma potente e adubada para que novos entendimentos acerca do trabalho com processos reflexivos compareçam de forma autêntica e transformativa. E você, voz que me lê? Consegue pensar em outras formas de trazer vozes para dentro dos seus atendimentos?
Referência:
LABS, M. S., & GRANDESSO, M. (2017). PROCESSOS REFLEXIVOS: AMPLIANDO POSSIBILIDADES PARA TERAPEUTAS QUE ATENDEM SEM EQUIPE. Nova Perspectiva Sistêmica, 26(58), 98–113. Recuperado de https://revistanps.com.br/nps/article/view/299
Arthur Alves de Oliveira Silva
Aluno(a) Colaborador da Turma 2024 do Curso de Formação em Terapia Familiar Sistêmica Contemporânea
Psicólogo formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 2023, com ênfase em Psicologia Clínica e Social
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