Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

Algumas considerações sobre o convite ao diálogo

Algumas considerações sobre o convite ao diálogo

Por Wanessa Rodrigues Freitas


A presente resenha foi feita com base no artigo “Algumas considerações sobre o convite ao diálogo”, escrito por Harlene Anderson, PHD, Psicóloga, membro fundadora do Houston Galveston Institute e do Taos Institute, recebido e publicado em 2016 pela Revista Nova Perspectiva Sistêmica, na edição de dezembro. A obra em questão possui como objetivo propor uma reflexão sobre o diálogo como uma atividade natural e espontânea, além de visar quebrar o paradigma do diálogo como técnica/método terapêutico para um processo natural e espontâneo do ser humano. 

Para isso, inicialmente é feito um retorno às conceituações do que seria o diálogo, presentes na literatura e filosofia, bem como a descrição do processo de diálogo. Entretanto, o primeiro reduz o diálogo a uma atividade prescrita e puramente técnica, enquanto o segundo retorna para a conceituação utilizada pelos antigos gregos, onde o diálogo seria uma busca contínua e um amor pelo conhecimento. 

A autora retoma, em alguns momentos, a importância da teoria de Mikhail Bakhtin para a formação da sua própria visão de diálogo. Para Anderson (2016), estamos sempre dialogando uns com os outros, com nossos mundos e com nós mesmos, portanto, o diálogo seria algo sempre aberto e nunca finalizado, mas sim permeado por diferentes vozes e perspectivas. Além de Bakhtin, a enfatização no aspecto relacional do diálogo, a multiplicidade de vozes e perspectivas e a ideia de que cada afirmação ocorre em resposta à outra, propostos por John Shotter, também influenciam a visão da autora. 

Sendo assim, o dialogar pode ser considerado como uma atividade relacional e colaborativa, influenciada por múltiplos contextos e discursos, que parte do interesse sincero de um indivíduo no outro. Para dialogar você deve escutar, ouvir e falar, resultando em um processo reflexivo. Nas palavras de Anderson: 

“ouvir é um processo contínuo de tentar entender o que pensamos que a outra pessoa disse, e o que pensamos que escutamos. Tentamos entender respondendo. Responder para entender envolve ser genuinamente curioso, fazer perguntas para aprender mais a respeito do que é dito (não do que você acha que deveria ter sido dito) e checar para saber se o que você pensa ter escutado é o que a outra pessoa esperava que tivesse ouvido. Respondemos ao convidar o outro a falar, desse modo podemos ouvir e respondermos de novo (2016)”. 

Buscando alternativas e maneiras úteis de se convidar, o outro e nós mesmos, para o diálogo, o texto nos apresenta 6 itens que podem nos auxiliar neste processo, sendo eles:

1) convidar e manter um diálogo colaborativo requer uma mudança de orientação; 2) o diálogo requer um projeto colaborativo; 3) o diálogo é uma atividade natural, espontânea que ocorre momento a momento; 4) as diferenças são fundamentais ao diálogo; 5) o diálogo requer falar, ouvir, escutar e responder; e, por fim, 6) ações que não são convidativas ao diálogo, englobando a tentativa de persuadir o outro a pensar e concordar com você, fazer perguntas pensando já saber a resposta e tentar rastrear um ponto de partida ou momento significativo. 

É preciso finalizar a leitura do artigo tendo em mente que dialogar não é fácil, para ambas as partes, mas ao mesmo tempo não é impossível. Para nós, terapeutas, é essencial a quebra do paradigma que o coloca como método terapêutico, para que assim possamos entender e aprender com o processo, o compreendendo como uma mudança conceitual sobre como pensamos o outro, nós mesmos, o que fazemos juntos e como o fazemos, além do mundo ao nosso redor. 

REFERÊNCIA: Anderson, Harlene. (2016). Algumas considerações sobre o convite ao diálogo. Nova Perspectiva Sistêmica, 25(56), 49-54.