A seguinte resenha possui como objetivo apresentar de forma discussão feita pelo psiquiatra norueguês Tom Andersen no livro “Processos Reflexivos” (2002), no capítulo Conceitos básicos e construções práticas (p. 37-69).
Andersen, psiquiatra social e professor no Instituto de Medicina Comunitária na universidade de Tromso, Noruega, foi uma importante referência para o desenvolvimento da prática em terapia de família a partir de suas contribuições sobre os processos reflexivos no trabalho terapêutico.
No capítulo Conceitos básicos e construções práticas, Andersen nos convida a questionar as percepções, interpretações e respostas às interações que indivíduos realizam com o meio externo a si e como aquilo pode (e de qual forma) os modificar. Andersen aborda o assunto fazendo uso de saberes e práticas multidisciplinares, criando elaborações a partir de produções de pessoas autoras da terapia sistêmica de diferentes escolas e perspectivas de trabalho terapêutico de diferentes categorias profissionais.
O autor constroi assim uma troca com o leitor, utilizando uma escrita fluida e organizada em tópicos para separar cada uma das ideias e conceitos abordados. Andersen fala sobre como indivíduos percebem algo e como que cada indivíduo possui uma percepção diferente do mesmo algo, a partir das suas próprias vivências e possibilidades de interpretação. Andersen utiliza a contribuição de trabalhos como o do autor Gregory Bateson para apresentar diferentes possibilidades de interpretação de algo ou alguém levando em consideração aquele que observa – e também é observado – , o contexto onde está inserido e as diferentes “distinções” que um indivíduo faz ao observar algo. Andersen explica que as distinções descritas por Bateson criam diferentes “mapas” ou “territórios” de uma mesma situação observada por diferentes pessoas.
Andersen também utiliza de experiências e conceitos biológicos, presentes no trabalho de autores como Humberto Maturana e Francisco Varela, para falar sobre a relação que um indivíduo estabelece com elementos externos a si e de que forma ele pode responder a tais distúrbios. Andersen fala das contribuições de Maturana e Varela na compreensão das trocas do indivíduo com com algo ou alguém, destacando as noções de preservação e integridade da pessoa em suas trocas estabelecidas e em sua participação e interação com o meio.
Ao longo do texto, somos guiados por Andersen em um diálogo entre diferentes concepções de interpretação de indivíduos (com indivíduos) e a fazer clínico, tendo como exemplo o uso das equipes observadoras e reflexivas como recurso da prática em terapia de família e seus benefícios. Abordando conceitos como linguagem, a relação do eu com o outro e consigo mesmo, dos sistemas-significados estabelecidos em diferentes trocas, o autor nos apresenta as diferentes possibilidades de uma clínica sistêmica.
Referências
– ANDERSEN, Tom. Conceitos básicos e construções práticas. In: ANDERSEN, Tom. Processos reflexivos. Rio de Janeiro: Instituto Noos, ITF, 2002, 2ª Ed. p.37-69. (Parte 1.2)
Lucas Renan Ferreira Lima – Aluno Colaborador da Turma 2024 do Curso de Formação em Terapia Familiar Sistêmica Contemporânea
Psicólogo clínico e social formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e instrutor de Kemetic Yoga pela instituição Yoga Skills: School of Kemetic Yoga (Chicago/USA). Pesquisador independente de relações étnico-raciais, racismo, masculinidades negras e saúde mental a partir de uma visão africano-diaspórica direcionada. Atualmente atuando com direitos humanos e violência de Estado em diálogo com a política de segurança pública.
Atendimento