Baseado no texto “A Linguagem não é Inocente” de Tom Andersen (2004)
Por Letícia Rodrigues
No texto “A linguagem não é inocente”, Tom Andersen (2004) traça um resumo importante sobre qual a forma de se estar-no-mundo como terapeutas, segundo preceitos do círculo hermenêutico, processos reflexivos e a importância da linguagem.
A todo momento, quando interpretamos situações, refletimos sobre aspectos da vida, conduzimos uma conversa para determinados assuntos ou fazemos perguntas específicas, estamos elencando certos sentidos em detrimento de outros. Fazemos escolhas constantemente enquanto conversamos um com o outro.
Tom Andersen (2004) argumenta que é impossível não sermos preconceituosos, pois quando tomamos a decisão de trazer à tona certos assuntos e não outros, algo é deixado de lado, algo não é visto como importante. Se temos a oportunidade de rever o que é excluído, podemos mudar nossa forma de enxergá-lo, formando um círculo com uma nova experiência que também deixará de lado outros aspectos, e assim sucessivamente.
Talvez um dos pontos mais cruciais na postura de Andersen (2004) é não se contentar com o que já é compreendido pelos livros e teorias. Ver, rever, analisar uma coisa só infinitamente não é o que agrada o autor. Ele estava interessado pelas margens, por estar numa postura que, apesar de muitas vezes solitária, nos coloca como possibilidade a liberdade de agirmos e estarmos-no-mundo de uma forma mais curiosa, horizontal e reflexiva em relação aos nossos clientes e às histórias que nos contam.
Essa troca de posições – um grupo fala e o outro escuta – que os processos reflexivos proporcionam, nos dão a oportunidade de expandir nossas ideias e significados. São formas de se conversar abertamente e que inclui várias perspectivas e vozes ao que é construído. O que é expresso não é somente o que é dito, mas o que é experienciado por todo o corpo. Somos afetados, mutuamente, pelos sentidos produzidos. As palavras carregarão muitas outras dentro de si mesmas, carregarão possibilidades de ação e formas de se estar-no-mundo.
Portanto, somos constantemente modelados pelos movimentos, sentimentos e linguagem que utilizamos, e não o contrário. Tom Andersen (2204) enfatiza isso veementemente.
O que falamos informa significados aos outros, mas também nos forma e constroi o nosso estar-no-mundo. Em uma das suas frases mais famosas e que carrega o sentido do título de seu texto, “as palavras não são inocentes”, Tom Andersen (2004) se posiciona quanto a um de seus mais importantes legados: somos sempre afetados pelo que é dito.
E se somos afetados pelo que é dito, enquanto terapeutas, precisamos cuidar do que dizemos, refletir sobre nossas ações e compreender que nenhum sentido dado é um sentido permanente. Assim sendo, podemos sempre oferecer a liberdade aos nossos clientes de criarem novos sentidos, novas linguagens e possibilidades de ação.
A linguagem não é inocente. Nova Perspectiva Sistêmica, AnoXIII, n. 23, fev. 2004, p.19-26.
Letícia Oliveira Rodrigues
Aluna Colaboradora da Turma 2024 do Curso de Formação em Terapia Familiar Sistêmica Contemporânea – Psicóloga clínica há 7 anos, formada pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia), possui Certificado Internacional em Práticas Colaborativas e Dialógicas, e formações de base teórica pós-moderna e construcionista social.
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