Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

Um estudo socioconstrucionista da expertise terapêuticaSheila McNamee

Texto baseado no artigo “Um estudo socioconstrucionista da expertise terapêutica”, de Sheila McNamee (2008)

Por Arthur Alves de Oliveira Silva

 

No mundo da psicoterapia, eventualmente profissionais são confrontados com a pergunta “qual é a sua abordagem terapêutica?”, ora por pacientes curiosos, ora por colegas de profissão. Tal pergunta, inocente ou não, comporta uma série de complexidades para aquelas(es) que trabalham com abordagens pós-modernas, visto que para estas(es) a fidelidade a uma abordagem propriamente dita nem sempre é tão radical quanto se costuma ser tradicionalmente na Psicologia. Muitos de nós assumiriam de forma breve e direta: “sou construcionista social”. Mas será que é algo tão simples assim nesse campo?

Em “Um estudo socioconstrucionista da expertise terapêutica”, Sheila McNamee tensiona isso de forma brilhante e propositiva. Entendendo que a terapia como construção social enfatiza o papel das conversações no processo terapêutico, passa-se a questionar se uma técnica ou método específico são tão relevantes para nós quanto nas abordagens modernas. Trata-se, portanto, de uma sensibilidade ética em relação ao processo conversacional. 

Não é possível saber de antemão quais são as conversas que gerarão transformação – e lembremos que esse é o nosso objetivo clínico: oferecer espaços de transformações para sentidos há muito cristalizados. Logo, terapeutas de sensibilidade construcionista social estão mais preocupados em adotar uma postura relacional radicalmente comprometida com os clientes, enfatizando o aqui-e-agora do diálogo, do que uma mera aplicação de técnicas ou protocolos. 

 De forma mais clara: não existem terapias construcionistas stricto sensu. O construcionismo social é uma postura filosófica, enfatizando o processo terapêutico como uma conversa ou diálogo, distinta do território discursivo do comum ou do banal. Entendendo a primazia da linguagem para nosso trabalho, as formas com que nos comunicamos, nomeamos o mundo e damos sentido às relações andam de mãos dadas com o nosso jeito de conversar e com as palavras que escolhemos. De acordo com McNamee, “determinados movimentos discursivos restringem ou potencializam diferentes formas de ação e, consequentemente, diferentes realidades” (p. 37). O nosso papel é possibilitar que outros movimentos discursivos, mais oxigenados e potáveis, surjam no campo existencial dos nossos clientes, através de conversas transformadoras. 

Logo, privilegia-se o que está acontecendo na conversação, tendo o foco no diálogo. Deixamos guardados na gaveta, por um momento, os problemas, diagnósticos, pessoas ou situações, centralizando em nosso holofote o contexto conversacional, em presença radical. Isso permite que os terapeutas estejam sempre abertos às possibilidades que surgem nesse cenário, inclusive podendo utilizar recursos de outros campos para que essa conversa possibilite ampliação de sentido – logo, é comum navegarmos pela arte, pela cultura, pelo cotidiano e até mesmo por outras teorias psicológicas, contanto que isso se contextualize no processo transformativo da conversa. 

Não saber prever de antemão quais são os caminhos percorridos por uma psicoterapia pode ser angustiante. A questão sobre o que é terapêutico torna-se aberta e indeterminada. Mas ao mesmo tempo, é libertador: tudo é possível, se estivermos atentas(os) e curiosas(os) para as histórias que escutamos.

 

Referência: 

McNAMEE, S. Um estudo sócioconstrucionista da expertise terapêutica. Nova Perspectiva Sistêmica n. 31, Instituto Noos, jul 2008, p. 34-43 (disponível em pdf).

 

Arthur Alves de Oliveira Silva

Aluno(a) Colaborador da Turma 2024 do Curso de Formação em Terapia Familiar Sistêmica Contemporânea

Psicólogo formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 2023, com ênfase em Psicologia Clínica e Social.