Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

mudanças

Problema e Mudança em Terapia de Grupo: Descrições Construcionistas Sociais 

 

Tomaremos como base para a resenha de hoje o artigo “Problema e Mudança em Terapia de Grupo: Descrições Construcionistas Sociais”, escrito por Emerson Rasera e Marisa Japur e publicado em 2005 pela revista Psicologia: Teoria e Pesquisa. Em conjunto os autores realizaram uma análise discursiva dos momentos grupais tomando como base um grupo de apoio para portadores de HIV, composto por quatro participantes O trabalho teve como objetivo geral compreender como determinadas formas de conversar contribuem para a construção do problema e sua solução. A estrutura do artigo é composta por introdução, método, análise dos resultados e considerações finais, sendo este penúltimo dividido em: negociando diferentes versões de cuidado; uma forma particular de cuidado; pela inclusão das diferentes possibilidades de cuidado; a afirmação de um discurso do cuidado pessoal e cuidados de si, cuidados para o grupo. 

É importante pontuarmos o que os autores consideram como construcionismo social, sendo este um conjunto variado de diferentes contribuições teóricas articuladas em torno de quatro ideias: 1) a ênfase na especificidade cultural e história das formas de conhecermos o mundo; 2) o reconhecimento da primazia dos relacionamentos na produção e sustentação do conhecimento; 3) a interligação entre conhecimento e ação; e 4) a valorização de uma postura crítica e reflexiva (Rasera & Japur, 2005). 

Quando no campo das psicoterapias, as maiores contribuições deste movimento são: o processo de construção dos sentidos; uma postura de co-construção e do não-saber; a multiplicidade de descrições possíveis para um problema e um discurso de potencialidades positivas e de construção de realidades futuras. Dentro das terapias grupais o próprio Rasera propõe uma redescrição das mesmas, definindo o grupo como uma prática discursiva, uma forma de criar realidades relacionais através da linguagem. 

Sendo assim, podemos dizer que o problema e a mudança passam a ser entendidos como construções discursivas produzidas nas relações entre as pessoas. Nas palavras dos autores: 

“(…) o problema não está nas pessoas, nem no relacionamento como um objeto descolado de seu meio, mas nas formas pelas quais juntos conversamos sobre o mundo. Problemas são determinadas formas de descrição, associadas a um conjunto de valores e discursos sociais, que geram sentidos de conflito e dificuldade” (Rasera & Japur, pp. 34, 2005). 

Com isso podemos concluir que no contexto grupal um mesmo problema pode ganhar múltiplas descrições, e a concepção de mudança se dá junto à negociação dos sentidos produzidos em um processo microssocial. 

Agora falando brevemente sobre o grupo estudado, este era um grupo de apoio de curto prazo para pessoas portadoras do HIV, composto por quatro

participantes: Pedro (45 anos), Marina (53 anos), Tiago (30 anos) e Ricardo (29 anos); e ocorreram dez sessões semanais e grupais de 1h30 de duração, gravadas e posteriormente transcritas. E os autores, baseados na teoria relacional do significado proposta por Gergen, buscaram rastrear o processo de suplementação dos enunciados (como os participantes respondiam uns aos outros) e analisar as ontologias relacionais que se construíam entre os participantes (as formas de descrição compartilhadas sobre si e sobre o outro decorrentes dos relacionamentos desenvolvidos no grupo). 

Por se tratar de uma resenha não iremos nos aprofundar nos detalhes sobre as sessões, mas estes podem ser encontrados diretamente na íntegra do artigo, disponível em https://doi.org/10.1590/S0102-37722005000100006. Indo diretamente para as considerações finais, os autores nos instigam ao seguinte questionamento: construindo um problema e uma mudança, como e para quem? E pontuam novamente que o problema e a mudança se constroem na relação entre as pessoas, e fazem sentido ali naquele contexto, sendo partes de um único processo conversacional onde as pessoas negociam os sentidos das situações vividas, as categorizando às vezes como problema e às vezes como solução. Finalizando com as palavras de Rasera e Japur, “problemas e soluções são parte de um mesmo processo de produção de sentidos sobre si próprio e o mundo” (2005). 

Palavras-chave: Terapia de grupo, Construcionismo Social, mudança. 

Referências Bibliográficas 

 

RASERA, E. F.; JAPUR, M.. Problema e mudança em terapia de grupo: descrições construcionistas sociais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, n. Psic.: Teor. e Pesq., 2005 21(1), jan. 2005.