Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

pobreza

Práticas narrativas na condução da terapia de uma família em situação de pobreza

Por Wanessa Rodrigues Freitas


Buscando refletir sobre a importância da inserção do psicólogo nos contextos de vida das famílias, especialmente as em situação de pobreza, a resenha de hoje terá como base o artigo “Práticas narrativas na condução da terapia de uma família em situação de pobreza”. Foi publicado em 2013 pela Revista Nova Perspectiva Sistêmica, edição 47, e possui como autoria Rejane, graduanda de psicologia, e Marisol Seidl, Mestre em Psicologia Clínica e especialista em terapia de família e casal. O estudo foi realizado com uma família em situação de pobreza, e teve como objetivo fortalecer aquele sistema familiar, levando em conta a história, a cultura e o contexto social que os membros faziam parte, facilitando o resgate das experiências familiares que favoreciam a construção de uma história alternativa para o futuro. 

Levando em consideração que famílias em situação de pobreza enfrentam constantemente desafios relacionados à sobrevivência, tanto de cunho material como emocional e psicológica, as autoras iniciam fazendo um resgate bibliográfico para embasar tal fato. Para Gomes & Pereira (2005), o empobrecimento socioeconômico se mostra como uma das faces mais cruéis da desigualdade social, e em condições sociais de escassez, privação e falta de perspectivas, as possibilidades de amar, de construir e de respeitar o outro são constantemente ameaçadas. Sendo assim, as práticas narrativas se mostram eficientes no processo terapêutico com famílias, pois por meio delas podemos examinar experiências e retirar o melhor possível para a construção de um novo caminho, buscando novas possibilidades e uma vida melhor, apesar das cicatrizes e adversidades (Silva & Seidl, 2013). Ou seja, como terapeutas podemos auxiliar os membros da família no alívio do sofrimento vivido e encorajar o reforço dos objetivos de vida. 

A família participante do estudo era composta pelo casal João (51 anos) e Maria (40 anos), e os três filhos: Lucas (12 anos), Clara (9 anos) e Joana (7) anos. No total foram realizados doze encontros, e a visita domiciliar se mostrou benéfica para aumentar a aproximação com a família ao conhecer a realidade vivenciada por eles. O contexto em que a família se encontrava durante a janela de atendimentos era complexo, as crianças haviam ficado abrigadas com o conselho tutelar por alguns meses, o pai, dependente do álcool, não estava realizando atividades laborais pela saúde frágil e dificuldades para sair de casa, e a mãe trabalhava como recicladora de lixo e catadora. 

Inicialmente os atendimentos eram ofertados individualmente para as crianças por meio de uma ONG, mas devido ao quadro de vulnerabilidade da família entendeu-se que o

atendimento individual não daria conta da demanda emocional e psicológica. Desta forma o processo começou com as visitas domiciliares e estas ocorreram em diversos formados: em algumas, somente o pai estava em casa; outras foram realizadas aos sábados, para contemplar toda a família. 

No primeiro momento a desordem da residência chamou a atenção, mas após cinco visitas foram notadas mudanças em relação à organização. Visando fortalecer a rede de apoio da família, o processo se estendeu para encontros junto ao CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), a escola das crianças, e ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Mudanças foram notadas também em João, o pai, que aceitou iniciar o tratamento no CAPS-AD, e reduziu consideravelmente seu consumo de álcool. 

Em determinado momento surgiu uma maior necessidade de envolver os outros membros da família no processo, e além das conversações reflexivas sobre valores, crenças e projetos familiares, a metodologia da Árvore da Vida também foi utilizada. Mais detalhes sobre como esta metodologia foi utilizada ao longo dos encontros podem ser encontradas com a leitura na íntegra do artigo, disponível em https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/35

Mesmo com as adversidades, Silva e Seidl (2013), pontuam que as crianças enfrentam a vida com esperança, sem perder a disposição e alegria para brincadeiras, pelo significado da relação de afeto e amor entre pais e filhos. Além deste vínculo ser considerado um fator de proteção, é também importante para incrementar o protagonismo, a busca da sobrevivência e de novas possibilidades de crescimento e desenvolvimento. 

Outro fator de proteção relevante no atendimento desta família foi a confiança depositada nos profissionais, tanto da ONG, quanto a estagiária de psicologia. Para as autoras, dentro da psicologia comunitária é essencial conhecer a história familiar, suas crenças, valores e habilidades, pois isso possibilita o desenvolvimento de uma história alternativa respeitando sua pluralidade e singularidade. 

Palavras-chave: Família; vulnerabilidade; terapia narrativa. 

Referência Bibliográfica 

SILVA, R.; SEIDL, M. Práticas narrativas na condução da terapia de uma família em situação de pobreza. Nova Perspectiva Sistêmica, [S. l.], v. 22, n. 47, p. 99–112, 2013.