Para a construção desta resenha, utilizou-se como base o artigo “Aprendendo Construcionismo Social: as conversas internas de uma terapeuta em formação”, escrito por Paula Cristina Medeiros Rezende, Psicóloga e doutora em Psicologia, e publicado em 2011 pela Revista Nova Perspectiva Sistêmica , na edição de abril, n. 39. O objetivo do trabalho é compartilhar os sentidos produzidos pela autora durante um curso de formação, que tem como perspectiva teórica o construcionismo social, e para isso a mesma analisou quatro episódios de interação ocorridos em um grupo composto por doze mulheres.
A autora inicia contextualizando o referencial teórico-metodológico que é o construcionismo social, e pontua quatro premissas centrais sobre: a primeira nos diz sobre como a construção de sentido sobre a realidade não ocorre de forma independente do momento (social/econômico/histórico/cultural) em que os indivíduos vivem; a segunda ideia premissa é a de que os relacionamentos humanos e seus respectivos processos sociais propiciam a construção e a sustentação do conhecimento sobre o mundo; já a quarta nos fala sobre como os discursos sobre o mundo acabam por sustentar formas de agir sobre o mesmo, interligando conhecimento e ação; por fim, a quarta premissa é sobre a valorização da postura crítica e reflexiva, e como por meio dela é possível questionar o conhecimento dito como verdadeiro e único (Rezende, 2011).
Outro ponto importante dentro das discussões construcionistas sociais é a linguagem, e esta não representa uma realidade existente, mas sim que é construída a todo momento. Para Gergen (2009), a linguagem possui poder criador e transformador, e é capaz de criar realidades partindo de diferentes mundos que emergem dos distintos modos de descrever aquilo que fazemos, sempre produzindo significados situados (Grandesso, 2000).
No campo da psicoterapia essa perspectiva agrega ampliando as possibilidades de ação, e o terapeuta construcionista social, nas palavras de Rezende (2011), “possui como foco a potencialidade do significado, a coconstrução do processo terapêutico, a ênfase no relacionamento, a polivocalidade, a ação e as potencialidades dos clientes superando a noção de problema como algo existente para além das formas de descrevê-lo”
. O curso de formação, contexto em que os sentidos foram produzidos, foi do FAMILIAE, e possuía como objetivo fomentar a articulação entre teoria e prática. A atividade prática proposta foi a participação em atendimentos de grupo, e o grupo em questão era composto por doze mulheres, em sua maioria atuando na área da saúde, e ao todo ocorreram seis encontros mensais de duas horas. Rezende analisa quatro episódios, sendo eles: Episódio 1 – Responsabilidade relacional: o problema do papel higiênico é de quem?; Episódio 2 – Posicionamento: que garantia eu tenho de que o outro está vendo o que eu tô vendo?; Episódio 3 – Postura de não-saber: ouvido generoso; e, Episódio 4 – Relacionamentos colaborativos e conversas dialógicas: a potencialidade da pergunta.
Por se tratar de uma resenha não iremos nos estender na descrição dos episódios, mas estes podem ser encontrados, bem como o artigo na íntegra, diretamente pelo link https://www.revistanps.com.br/nps/article/view/190. Entretanto, como terapeuta em formação não posso deixar de comentar o impacto proporcionado pela postura do não-saber e a ideia do ouvido generoso. De acordo com a autora (2011):
“(…) a escuta generosa é uma doação ativa, um comprometimento com a história do outro. É ser informado pelo outro, aprender sobre o que foi dito e o que não foi dito. Ter um ouvido generoso é buscar estar com a pessoa, falar e conversar com ela sobre aquilo que ela tem para contar de tal forma que novos sentidos possam ser compartilhados”.
Ou seja, para sermos terapeutas melhores precisamos abandonar a postura de especialistas e valorizar o que os clientes nos trazem, transformando o familiar em exótico e ampliando os sentidos, já que estes são os especialistas das suas próprias histórias. Para isso, o construcionismo social pode ser um campo fértil de reflexões.
Palavras-Chave: Construcionismo Social, construção de sentido, postura crítica e reflexiva, linguagem, coconstrução, postura de não-saber.
Referência Bibliográfica
REZENDE, P. Aprendendo construcionismo social: as conversas internas de uma terapeuta em formação. Nova Perspectiva Sistêmica, [S. l.], v. 20, n. 39, 2016.
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