Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

Algumas reflexões sobre conflitos e adolescências

Algumas reflexões sobre conflitos e adolescências

Por Wanessa Rodrigues Freitas


A presente resenha foi feita com base no artigo “Algumas reflexões sobre conflitos e adolescências”, escrito por María del Rocío Chaveste Gutiérrez, Doutora em Psicologia Social, co-fundadora, diretora e docente no Instituto Kanankil, e María Luisa Molina López, Doutora em Administração Pública, Estudos Chicanos e Estudos da Mulher, e Diretora Executiva do Instituto Kanankil. O artigo foi publicado pela Revista Nova Perspectiva Sistêmica, na edição de abril de 2014, nº 48. O artigo tem como objetivo geral o convite à reflexão no que diz respeito aos discursos que abordam as estratégias utilizadas na resolução de conflitos familiares por adolescentes, especificamente na cidade de Mérida, no México. 

Inicialmente, o estudo se juntou a um projeto realizado pelo Instituto Kanankil que possuía como objetivo analisar as estratégias de resolução de conflitos a partir dos e das adolescentes e das diferentes pessoas que constituíam um núcleo familiar e utilizou como instrumento um questionário com perguntas estruturadas direcionadas a observar como os conflitos familiares se resolvem através de atos que podem ser caracterizados como violentos por algumas pessoas (Chaveste e López, 2014). 

Entretanto, as autoras finalizaram o estudo principal com diversos questionamentos, o que culminou no artigo em questão. Após nos apresentar um breve contexto sobre o estado de Yucatán e a cidade de Mérida, no México, somos levados a refletir sobre algumas considerações envolvendo os conceitos de famílias e adolescência. Para Parsons (1976), o equilíbrio é a característica fundamental das famílias, que por sua vez possuem o papel de estabilização, transmitindo valores, normas e modelos de comportamento pré-estabelecidos. 

Sendo assim, nas palavras das autoras, “o mundo familiar é um espaço de natureza hierárquica em que se gestam e reproduzem assimetrias sociais; é âmbito de afetividade e solidariedade, de conflito e lutas internas” (2014). E falando em afetividades, Berger e Luckmann (1967) propõem que esta, junto com a relacionalidade, são necessárias para a construção social da realidade e tornam o aprendizado significativo. Ademais, somos apresentados à discussões que envolvem o poder masculino hegemônico como produto histórico da reprodução cultural na sociedade, e as lições de gênero, que são recebidas em primeira mão no contexto familiar. 

Passando para os conceitos que tentam explicar o que seria adolescência, temos a definição feita pela Organização Mundial da Saúde (2009), que a conceitua como o período da vida no qual o indivíduo adquire maturidade reprodutiva, efetua a migração de padrões psicológicos da infância à idade adulta e estabelece sua independência socioeconômica. Porém, Chaveste e López nos levam a pensar na adolescência como algo único, que leva em consideração o espaço, tempo e história de vida de cada adolescente. Desta forma, ambas dizem: 

“Os conceitos de adolescência e juventude correspondem a uma construção social, histórica, cultural e relacional, que através das diferentes épocas e processos históricos sociais foram adquirindo denotações e delimitações diferentes em um processo permanente de mudanças e ressignificações. 

Durante a adolescência é também o momento em que nossa identidade social vai se consolidando cada vez mais, e para Gergen (1996) a identidade social é resultado da interpretação que o adolescente faz de si mesmo em um contexto determinado e em um tempo específico. Ou seja, não é um processo mental individual, mas sim relacional e que emana dos discursos construídos através do intercâmbio comunal. 

As conversas que culminaram nos questionamentos das autoras vieram de doze entrevistas semiestruturadas realizadas com adolescentes e seus familiares, todos moradores da cidade de Mérida, Yucatán. Todas as famílias possuíam entre 3 e 6 membros, e as idades dos adolescentes variavam de 12 a 17 anos. Quando questionados sobre o que seria conflito, o que mais apareceu foi: um mal-entendido, uma briga entre pessoas, problemas que famílias ou grupos de pessoas possuem, e algo que acontece e se pode resolver. Chaveste e López (2014), pontuam que as ideias apresentadas se assemelham a definições teóricas, como o conflito como um processo que expressa desacordo de ideias, interesses ou princípios entre pessoas e grupos; e o conflito como uma situação na qual as pessoas ou grupos buscam ou percebem metas opostas. 

Se tratando das estratégias comuns no enfrentamento e resolução dos conflitos, o que se destacou foram as respostas verbalmente violentas (gritar, se queixar, acusar), as respostas conciliadoras (conversar), respostas de deixar passar (ignorar, ser indiferente), respostas de isolamento (não dizer, se fechar), respostas

em busca de conselhos (conversar com amigos e parentes), respostas fisicamente violentas (bater), as respostas de reflexão e análise (falar consigo mesmo, pensar) e as respostas de mudança de ânimo (fazer cara feia, ficar de mau humor). 

São notadas algumas respostas mais recorrentes em gêneros diferentes, bem como diferenças entre as estratégias utilizadas por tipos diferentes de famílias; mais detalhes podem ser obtidos diretamente com a leitura do artigo na íntegra. As reflexões propostas pelas autoras após a análise dos dados obtidos vão desde “a partir de que tipo de discurso estamos querendo ver ou enquadrar este estudo?” quais seriam as diferenças entre os discursos institucionalizados da violência e os discursos locais, e como saber quais são estas divergências?”, e “como seria falar de uma maneira diferente de tudo isso?”. 

Para isso, retomam novamente à Gergen (1996). buscando ver o relacional no discurso não com o entendimento de que a vítima da violência é responsável, mas sim pensando as relações como algo construído a todo instante, abrindo a possibilidade de assim construir algo diferente. As autoras finalizam o artigo com um questionamento que acredito ser pertinente utilizar para finalizar esta resenha: se partimos da ideia de que a linguagem constrói realidades, que tipo de linguagem ou de palavras poderíamos começar a utilizar para começar a modificar as relações e as identidades? 

Palavras-Chave: Famílias, adolescentes, adolescência, afetividades, identidade, violência. 

Referência Bibliográfica 

CHAVESTE GUTIÉRREZ, M. del R.; LÓPEZ, PH.D., M. L. M. Algumas reflexões sobre conflitos e adolescências. Nova Perspectiva Sistêmica, [S. l.], v. 23, n. 48, p. 95–104, 2016.