Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

Transmissão transgeracional de padrões conjugais e familiares

Transmissão transgeracional de padrões conjugais e familiares: implicações para o cuidado em saúde 

 

Viviam Ajala Pasini- CRP05/67193

Nesta resenha será utilizado o artigo “TRANSMISSÃO TRANSGERACIONAL DE PADRÕES CONJUGAIS E FAMILIARES: IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO EM SAÚDE “ escrito por JUNIA DENISE ALVES-SILVA e FABIO SCORSOLINI-COMIN, publicado no ano de 2021. Neste estudo, os autores buscaram compreender a transmissão transgeracional de elementos entre as gerações das famílias com foco nas práticas conjugais e familiares. Considerando vários elementos no cuidado em saúde, trazendo a reflexão sobre os aspectos intersubjetivos que atravessam as famílias e que podem promover uma atenção mais próxima, integrada e humanizada. 

Segundo Alves-Silva; Scorsolini-Comin (2021), pensar sobre transmissão de conteúdos entre as gerações da família é considerar que mesmo antes da concepção, a pessoa é marcada pelas expectativas da família de origem, o que pode influenciar o seu desenvolvimento, ressaltando o papel da família como transmissora de valores, significados e percepções que participam da construção da subjetividade dos indivíduos (Almeida, Magalhães & Féres-Carneiro, 2014 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin 2021). 

A transmissão transgeracional a partir do olhar sistêmico é representada pela ideia da bagagem que é advinda dos modelos familiares e sociais. Mesmo que esses modelos sejam repetidos, contrariados ou transformados, todas possibilidades partem dos padrões relacionais já conhecidos. Esses padrões familiares são os modos de funcionamento, que costumam se repetir. (Zordan, Falcke, & Wagner, 2014 ; McGoldrick, Gerson, & Petry, 2012 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin, 2021). 

Nesse artigo os autores (2021) também trazem a teoria de Bowen (1989) na qual, as pessoas carregam consigo sua família de origem e indica que os conflitos não resolvidos no contexto original tendem a se repetir nas outras relações interpessoais. Vale destacar também, o conceito de diferenciação de Self, o que de acordo com Bowen (1989) é o grau de maturidade emocional do indivíduo. A partir da sua diferenciação, objetiva-se que a pessoa tenha capacidade de pensar e refletir por si mesma (apesar da influência formativa da família), que não responda automaticamente a pressões emocionais (internas ou externas) e que tenha capacidade de ser flexível, mesmo diante da ansiedade. Desse modo, a maneira como a vinculação emocional na vida adulta é tratada vai facilitar ou dificultar que a pessoa “se solte” de seus pais. Sendo assim, a capacidade dos indivíduos de se diferenciarem é influenciada pelo passado multigeracional e pelas experiências vividas nas famílias de origem, o que significa que os níveis de diferenciação

de self vão sendo transmitidos de geração a geração e influenciam a facilidade ou dificuldade das pessoas de se diferenciarem de seus pais (Bowen, 1989 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin, 2021). 

Os autores, traçam um paralelo também a importância dos cuidadores para a construção dos vínculos afetivos dos filhos ao longo da vida, de tal maneira que pode influenciar na construção ou dissolução de relacionamentos amorosos. 

“A terapia familiar transgeracional poderia ser uma perspectiva interessante 

para os cuidados em saúde mental porque examina as interações das 

famílias ao longo das gerações como uma estratégia utilizada para 

compreender como elas responderam às crises, bem como para tentar 

prever possíveis dificuldades. As pessoas são desafiadas a examinar 

padrões transgeracionais de comportamento, de comunicação, de 

resolução de conflitos, em busca da promoção da diferenciação do 

self de cada membro da família.” (Ballard, Fazio-Griffith & Marino, 2016 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin, 2021). 

Desse modo, os autores enfatizam a importância da reflexão, pois, pode trazer elementos importantes para as interações e relações estabelecidas atualmente, ao identificar determinados padrões, pode ser possível buscar novas formas de responder aos eventos e desafios encontrados nas relações cotidianas. 

Outro ponto que os autores trazem em seu artigo, é o do casamento como um atualizador de herança familiares. Nesse sentido, o casamento é a transformação de papéis dos membros de sua família de origem, ao mesmo tempo em que se inicia um novo casal. Esse ritual, possibilita mudanças individuais e no sistema familiar, exigindo que o casal negocie sua relação com os demais subsistemas. (McGoldrick, 2011 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin, 2021). 

Em resumo, o casamento é um evento de transformação no ciclo vital e pode ser considerado uma “crise” por ocasionar instabilidade e necessidade de reorganização das relações e das regras de funcionamento da família. Nesses momentos, o poder dos padrões familiares transgeracionais pode se tornar mais evidente ao favorecer ou dificultar determinados comportamentos do meio familiar (Falcke & Wagner,2014 apud Alves-Silva; Scorsolini-Comin 2021) 

Nesse artigo, foi visto que a família é um meio privilegiado de transmissão de conteúdos, os quais são passados às gerações seguintes de diversas maneiras. Dentre elas, pela aprendizagem de comportamentos por observação, pelo compartilhamento de experiências cotidianas, pela comunicação verbal, valores, expectativas, silenciamentos, tradições familiares, padrões de interação e comunicação entre os membros. Existem continuidades e rupturas na transmissão transgeracional, seja no sentido da repetição, transformação ou evitação da herança familiar. Para os autores, a perspectiva sistêmica como referencial teórico, consegue fundamentar essas discussões transgeracionais,

considerando uma visão dinâmica e de circularidade sobre os processos de constantes interações entre as pessoas e o meio (Alves-Silva; Scorsolini-Comin, 2021). Portanto, é possível dizer que a família têm um papel importante na saúde das relações, e esse artigo, contribui para essas reflexões, não só para os profissionais da psicologia, mas também para os profissionais da saúde, para a inclusão responsável e crítica da família como uma camada de análise na atenção à saúde. 

Palavras-chave: Família, Relações familiares, Casamento, Enfermagem familiar Referência 

ALVES-SILVA, J. D.; SCORSOLINI-COMIN, F. Transmissão Transgeracional de Padrões Conjugais e Familiares:: Implicações para o Cuidado em Saúde. Nova Perspectiva Sistêmica, [S. l.], v. 30, n. 70, p. 77–92, 2022. DOI: 10.38034/nps.v30i70.570. Disponível em: https://revistanps.com.br/nps/article/view/570. Acesso em: 22 dez. 2022.