Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

morte

Conversações com a morte: experiências em terapia colaborativa dialógica para situações de perda e luto

Viviam Ajala Pasini- CRP05/67193

A resenha escolhida de hoje será sobre o artigo de Bruno Lenzi publicado em 2021, “CONVERSAÇÕES COM A MORTE: EXPERIÊNCIAS EM TERAPIA COLABORATIVA DIALÓGICA PARA SITUAÇÕES DE PERDA E LUTO”. Nesse artigo o autor apresenta um recurso terapêutico para o diálogo com pessoas que vivem o desconforto de uma perda significativa. O texto explora a articulação teórico-prática sobre os caminhos para o uso desse recurso por meio da teoria da terapia colaborativa dialógica, a descoberta e construção conjunta das possibilidades para o relacionamento do cliente com o outro ausente, para isso traz também alguns relatos de casos atendidos na clínica particular. Porém, nessa resenha, vamos nos ater apenas sobre o conceito de mapa de conversão de re-associação e o “dizendo olá”. 

Segundo Lenzi (2021) a ideia do mapa de conversão de re-associação inspirou o desenvolvimento das conversações com a morte a sua prática colaborativa dialógica com pessoas que viveram situações de perda, não só pela morte, mas também por mudanças na vida, fins de relacionamentos, fins de ciclos. As práticas, inicialmente, eram exercícios do mapa de conversações de re-associação, e foram colocadas em interação com as sensibilidades filosóficas colaborativas, o que distanciou dos aspectos mais orientativos da terapia narrativa para corporificar a incerteza, a espontaneidade e a expertise do cliente, convidando-os para diálogos sócio-construcionista. O autor também diferencia seu trabalho dos conhecimentos tradicionais de que o luto se dá em estágios. O recurso que Lenzi (2021) vem desenvolvendo ocorre dentro das relações que o cliente orienta, a linguagem para a descrição da dor. O terapeuta participa com a investigação que expande o conhecimento que o cliente tem de si, para alcançar a criatividade para novas respostas. 

“Conversações com a morte não propõem a extinção de 

conhecimentos prévios para enlutamento, mas convidam à interação 

alinhada com as sensibilidades colaborativo dialógicas em conversas com 

participantes cuja demanda à terapia é a dor da perda e a busca por 

formas alternativas de relacionamento, por meio da investigação da 

linguagem local com perguntas, reflexões e avaliação pelas pessoas 

engajadas na conversa.” (LENZI, 2021, p.35) 

O autor (2021) constrói a fundamentação da sua prática com a compreensão do conceito de self relacional de McNamee & Gergen (1999) e personagens internos de

Lenzi (2013) do construcionismo social. Este conhecimento faz referência aos processos sócio-históricos que nos tornaram quem somos, os relacionamentos mais relevantes. Entretanto, segundo o mesmo (2021), a repetição das respostas historicamente fortalecidas podem levar a interações pouco qualitativas e até desatualizadas para determinado momento. Em terapia, um caminho é escutar atentamente por vozes ou respostas alternativas às mais espontâneas que o cliente tem disponível em seu self e buscar entender a multiplicidade de alternativas imaginárias (LENZI, 2021). 

Nesse artigo, o autor afirma que quando um cliente conta sua história e um outro participante aparece e tem relevância naquela interação, ele é questionado se gostaria de convidar esta outra pessoa na sessão, e o cliente é quem define se os outros participantes são úteis ao processo ou não. Dessa forma, quando os outros participantes não podem estar, presencialmente, pode ser utilizado cartas para conhecê-los, ou quando se torna inacessível, o terapeuta convida a voz internalizada desse outro no seu cliente, para entender uma possível descrição alternativa. Para Lenzi (2021) isso significa que novas respostas precisam ser testadas e confirmadas socialmente para adquirirem o significado útil e se corporificam na responsividade espontânea da pessoa. 

Nesse sentido, Lenzi (2021) traz o conceito de Re-associação dizendo olá, e afirma que para White (2007), este é um mapa de conversação da terapia narrativa para conversações quando em situação de perda, luto, ou fins. O uso da metáfora da associação, composta por pessoas, identidades e vozes de relevância, mesmo que essas sejam ficcionais, dá coerência para a presença de um desses membros no self da pessoa. Ao estar interessado na história de um participante na vida do cliente, nós estamos, de modo inerente, atualizando este relacionamento no self. Este outro não precisa estar morto, apenas em um lugar diferente do usual ocupado anteriormente na vida do cliente. Já dizer olá é um desenvolvimento baseado na re-associação, para a terapia de casos entendidos socialmente como de luto patológico. Esta possibilidade de narrativa foi questionada, segundo Lenzi (2021) por White (2007), que era cético aos discursos patologizantes das experiências das pessoas, para favorecer narrativas mais empoderadoras de seus clientes. 

Foi percebido que as pessoas não haviam apenas perdido um ente querido, mas também parte de sua identidade. Enquanto as pessoas eram estimuladas a dizerem adeus e reconstruírem suas vidas sem a participação do falecido, elas experimentam dor e sofrimento e podem fracassar no processo de reestruturar seus selfs. Para isso, White (2007) propôs reincorporar esses entes queridos por meio de uma metáfora alternativa, o “dizer olá” (White, 2007, p. 151 apud Lenzi, 2021). Com perguntas legitimadoras da história e participação da pessoa ausente na vida do cliente, essas conversas geraram a dissolução do desespero. Ele acreditava que essas conversas

contribuíram para desafiar o entendimento ocidental de self encapsulado, essencialista e imutável, ao convidar pessoas para investigarem os relacionamentos que compunham suas identidades (White, 2007, apud Lenzi, 2021) . 

Portanto, as situações de perda e luto exigem um trabalho diferenciado de outras situações, que não tem como objetivo a superação da dor, mas sim a possibilidade de construir novos caminhos. Por fim, afirma Lenzi (2021, p.47): 

“(…) busquei apresentar a possibilidade do recurso, que chamei 

conversações com a morte, para terapeutas e profissionais de áreas 

diversas engajarem-se em interações com pessoas que vivem situações de 

luto, perdas e fins em relacionamentos. Esse recurso para conversa não 

traz um caminho à superação da dor por nossos clientes, mas uma 

sensibilidade para conversar com os conhecimentos e criatividade das 

pessoas com quem trocamos, na investigação dos caminhos plurais 

disponíveis para estabelecimento de relacionamentos mais úteis e 

confortáveis nos critérios do cliente. (…). Esta alternativa é um produto 

da soma entre epistemologia construcionista e investigação compartilhada 

de clientes e terapeuta.” 

Vale destacar, que o artigo há outros conceitos importantes para serem estudos em relação a esse tema e exemplos de casos clínicos, acesse https://revistanps.com.br/nps/article/view/616/471 para ler o artigo completo. 

Palavras-chave: Construcionismo social, luto, morte, terapia colaborativa dialógica, terapia narrativa 

Referência 

Lenzi, B. (2021). Conversações com a morte: experiências em terapia colaborativa dialógica para situações de perda e luto. Nova Perspectiva Sistêmica, 30(69), 34–48. https://doi.org/10.38034/nps.v30i69.616