Nucleo Contemporâneo de Psicoterapia

Dia das Crianças

Dia das Crianças: brincadeira é coisa séria!

Bruna Giovana Modesto

 As concepções de infância que conhecemos hoje como uma fase fundamental para um pleno desenvolvimento até a vida adulta, corresponde a um processo de construção social, que ocorreu na medida em que os entendimentos sobre a constituição da infância foram se tornando mais necessários e relevantes nas sociedades (ARIÈS, 1981). Assim, os papeis atribuídos as crianças são diferentes em cada época, lugar e cultura, sendo esses fatores que influenciam na maneira como é vivenciada essa fase da vida.

Dessa forma, a família e a escola como instituições sociais passam a ocupar um lugar de responsabilidade pelo cuidado e educação das crianças, sendo essas responsáveis por zelar e garantir as condições necessárias para seu pleno desenvolvimento e bem-estar (ARIÈS, 1981).  Ao longo dos anos, muitos estudiosos da área da psicologia e do desenvolvimento humano se dedicaram a investigar quais seriam tais “condições ideais”, sejam elas ambientais, sociais e emocionais, que garantiriam o crescimento saudável das crianças.

Existe um consenso na literatura científica sobre a importância da brincadeira para o desenvolvimento das crianças, através dessa que é possível explorar, conhecer e se relacionar com o mundo e as outras pessoas. O brincar é muito mais do que uma simples atividade recreativa para a diversão, trata-se de momentos que possibilitam o exercício da imaginação, criatividade, cognição, inteligência e afetividade. Por meio da brincadeira a criança está aprendendo, ampliando e transformando a realidade em que vive (VIEIRA, 2016).

O psicanalista Winnicott (1971; 1975), enfatiza a importância da brincadeira como recurso facilitador para um desenvolvimento emocional saudável, segundo ele “(…)é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (BELO; SCODELER, 2013, pág.93). Outro importante estudioso que também se dedicou a temática foi o psicólogo Lev S. Vygotsky, para ele o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, essa que é um domínio psicológico que vai mediar o amadurecimento da criança, que com ajuda de alguém desempenha determinada atividade ou ação, mas que posteriormente conseguirá realizar sozinha (ROLIM, 2008).

“A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais” (VYGOTSKY, 1998, p. 137 apud ROLIM, 2008, p. 179).

Por meio do brincar, a criança desenvolve sua capacidade de simbolização, consegue separar o pensamento de um objeto, transformando o significado das coisas. Por exemplo, a vassoura de casa vira um cavalinho, um galho de árvore um boneco ou uma espada (ROLIM, 2008). Desse modo, a criança consegue exercitar sua capacidade de criar e imaginar. O brinquedo não precisa ser muito elaborado, pelo contrário pode ser simples, o que facilitaria ainda mais a expressão de seus sentimentos e fantasias na brincadeira (VIEIRA, 2016).

Atualmente, muito se fala sobre a necessidade de privilegiar atividades ao ar livre como esportes e atividades culturais, enfatizando que as crianças de hoje passam muito mais tempo expostas a telas de celulares, televisão ou computadores do que brincando livremente. Nesse sentido, é fundamental compreender a importância de criar mais espaços lúdicos que valorizem a hora de brincar como um compromisso sério, que pode ser compartilhado em família. O adulto deve ser um facilitador desses momentos, na medida que compreende que por meio da brincadeira a criança pode expressar o que sente, criar, compartilhar e socializar. A brincadeira é uma peça chave para o desenvolvimento físico, psicológica e social das crianças.

Referências Bibliográficas

ARIÈS, P. A história social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.

BELO, Fábio; SCODELER, Kátia. A importância do brincar em Winnicott e Schiller. Tempo psicanal., Rio de Janeiro, v. 45, n. 1, p. 91-101, jun.  2013.  

ROLIM, Amanda Alencar Machado et al. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Rev. Humanidades, Fortaleza, v. 23, n. 2, p. 176-180, jul. 2008.

VIEIRA, Daniele dos Santos M.; VILLELA, Fabio Camargo Bandeira. A importância do brincar e do brinquedo para o desenvolvimento infantil. Colloquium Humanarum, [S.L.], v. 13, n. , p. 76-82, 15 dez. 2016. Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC).